Antibióticos e resistencias

Setembro 29, 2005 às 11:36 am | Publicado em Uncategorized | 12 comentários
Foi realizada na semana passada na Universidade de Warwick a conferência anual da Agencia de Protecção da Saúde. Nesta conferência foram apresentados os resultados de um estudo sobre a prevalencia do MRSA (Staphilococus aureus meticilina resistente) que indicam que o uso de antibióticos e as medidas de controlo da infecção têm um impacto significativo nos niveis de MRSA nos hospitais europeus.
O projecto de Resitencia de Antibioticos, Prevenção e Controlo (ARPAC) envolveu cerca de 300 hospitais de 34 paises. A prevalência de MRSA verificada foi superior nos paises do sul da Europa… olha a surpresa, mais uma vez o trio maravilha… e a incidência era tanto maior quanto maior o volume de antibioticos prescritos.
O estude revelou também que o uso de classes especificas de antibióticos, tais como os macrólidos e as cefalosporinas de terceira geração, está associado a uma incidência superior de MRSA.

O MRSA é uma bactéria encontrada na mucosa nasal e na pele de 20-30% da população saudável (colonização). Normalmente a colonização não representa problema algum, não sendo necessário qualquer tipo de tratamento, sendo apenas essas pessoas portadoras do microrganismo. No entanto, quando a bacteria é transmitida a pessoas que sofrem de outras patologias e se encontram vulneráveis e debilitadas, (doentes que sofreram uma cirurgia, com doenças malignas, catéteres, ou drenos) pode causar infecçoes de uma gravidade extrema e que representam risco de vida.
O problema colocado por esta bacteria, baseia-se na sua resistência aos antibióticos comummente usados (na verdade são conhecidas cerca de 17 especies de MRSA, com diferentes graus de imunidade aos diferentes antibióticos). Enquanto que as espécies não resistentes a meticilina podem ser tratadas com flucloxaciina, eritromicina e cefalosporinas, o MRSA requer tratamento com vancomicina, teicoplamina ou o recente linezolid.
Os resultados do estudo não me surpreendem. Primeiro, em Portugal, na maioria dos hospitais não existe um microbiologista ou um departmento de controlo de infecção. Segundo, não existe uma politica nacional de prescrição de antibioticos, o que significa qua nao há qualquer restrição na escolha dos agentes nem “guidelines” para o seu uso. E terceiro, a maioria dos médicos portugueses prescribe antibioticos com base em duas falácias perigosissimas: por um lado acham que para exterminar uma bactéria mais vale atacá-la com o antibiótico mais poderoso a que puderem deitar mão e por outro que, para determinado antibiótico, a via intravenosa é mais eficaz que a via oral. Ora no primeiro caso trata-se de uma situação semelhante a tentar matar uma mosca com uma bala de canhão e no segundo um erro, uma vez que se a mucosa do estomago estiver intacta e o doente nao apresentar patologias gástricas a absorção se faz normalmente. Além disso, de que cada vez que se administra uma injecção a integridade da pele é quebrada e procede-se a abertura de orificios que os microrganismos usam para entrar no corpo.

Nota: a meticilina é um antibiótico que foi usado há muitos anos no tratamento de infeccoes com Staph. Aureus. Hoje em dia nao é utilizada para o tratamento de infeccoes mas apenas como meio de classificar este tipo particular de resistencia.

Coragem…

Setembro 29, 2005 às 8:40 am | Publicado em Uncategorized | 9 comentários


La vai o Manuel Alegre…

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