O linho

Março 22, 2006 às 9:51 am | Publicado em Uncategorized | 8 comentários

A preparação do linho era muito morosa, requerendo muito paciência e muito trabalho. Para começar, a planta donde se extraía o precioso material tinha se ser semeada em Outubro. Em Maio, com as plantas nascidas e crescidas era necessário mondá-las, ou seja, arrancar as ervas daninhas que se aproveitavam da humidade da terra e dos nutrientes destinados às outras para proliferar. Uma vez esta tarefa cumprida, livres as desejadas plantas para crescer e maturar sem competição, deixavam-se por mais dois meses entregues aos elementos e ao clima até serem arrancadas no mês de Julho.

Depois de arrancadas, arranjavam-se as plantas em molhos que eram açoitados para se extraíam as semente. Depois disso eram transportados ao rio onde eram imersos em água corrente durante cinco dias. Decorrido esse tempo, retiravam-se e expunham-se ao sol por dois dias até estarem plenamente secos.

Os corpos desidratados das plantas eram então pacientemente malhados com um instrumento de madeira (maçadouro), dilacerando os caules lenhosos e expondo o conteúdo fibroso. De seguida “espadava-se” a matéria obtida e o linho ficava em “estriga”. As “estrigas” eram então “assedadas” (cedadas?), numa operação em que era separada a estopa grossa do linho fino, fazendo passar várias vezes pequenas quantidades por um pente de metal (cedeiro). Finalmente, a matéria obtida desta operação estava pronta a ser fiada.

Mas não terminava aqui a árdua preparação do linho. Depois de fiado, o linho era “ensarilhado” em meadas usando um argadilho e de seguida as ,eadas eram “empoetadas” com cinza. Esta operação consistia em colocar as meadas em camadas alternadas com cinza num caldeirão, cobrir de água a pilha e fazer ferver o linho. Após cozidas, as meadas tinham de ser lavadas e expostas ao sol até descorarem até ao tom desejado. Finalmente estava o linho pronto a ser dobado em novelos, e tecido.

O espinhoso processo de obtenção do linho era aligeirado por algumas tradições que iam ocorrendo ao longo da preparação. As diversas tarefas eram efectuadas por bandos de moças. Quando o linho era mondado, os rapazes precaviam-se para não serem apanhados sós pelas raparigas. Se isso acontecesse, o pobre incauto sofria um atentado colectivo em que o grupo das moçoilas “contava os galhos” ao desgraçado. A enganadora expressão significava que o mancebo era imobilizado e os testículos tacteados. Se era uma oportunidade para estabelecer a virilidade do efebo ou apenas uma pequena vingança feminina não sei. Mas por mais que a feminil ousadia pareça inócua, a verdade é que as castas jovens por vezes executavam a tarefa com um entusiasmo impetuoso que podia deixar o desacautelado macho muito doloroso por alguns dias.
Quando as moças levavam o linho ao rio, os rapazes aproveitavam a oportunidade para namoriscar, sufruindo do facto de as jovens estarem livres da feroz vigilância paternal mas ainda assim acompanhadas umas das outras para que a honra das ditas não fosse maculada.

8 comentários »

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  1. Olá Rosario,
    (bem o primeiro!! Que mal me sinto)

    Adorei!! Este teu post está abstante interessante!! È sempre bom ler e aprender, ou retirar algumas curiosidades que nos alimentam o espírito!!

    Boa semana!! (Nesse tempo do linho é k se estava bem… sem os problemas da “sociedade do (des)futuro”).. Beijos

  2. Fixe…
    e as melhoras também

    inté

    P.S- gostava de ver esse vestido de Prima’Vera!

  3. obrigado. e bom dia.

  4. maçadeiras do meu linho
    maçadeiras do meu linho
    “maçai” o meu linho bem
    “maçai” o meu linho bem!
    jinhos!

  5. bela exposição aqui tens com um recorte bem detalhado deste moroso processo, para no fim e com um simples gesto eu vestir uma camisa de linho.
    parabéns.

    bjcs

    adesenhar………..

  6. …..excelente trabalho de recolha de tradições…..

    P.S. ás vezes é dificil aceder ao meu e-mail através do blogue, mas por favor tenta enviar directamente do teu e-mail, o meu é coisas-do-burro@hotmail.com, muito obrigado!

    Beijinho 🙂

  7. Hoje o Micróbio faz anos… 🙂

  8. gostei, aprendi

    jocas maradas


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